quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O frio, o Fred e o avesso


Saindo à rua, do dentista, peguei uma daquelas transversais à praia que nessa época do ano uivam de vento gelado. O vento vindo do mar tem um cheiro diferente e um frio mais forte. Úmido, ele é penetrante e também pesado. Como a água e o sal, ele tende a descer.
Logo que pude dobrei numa esquina, menos por necessidade quanto aos meus objetivos imediatos (queria comer um churrasquinho antes de ir pra casa) e mais pela proteção que as paredes dos prédios me poderiam trazer.
A diferença era enorme: depois da curva, a calmaria quase abafada, sufocava um pouco, oprimindo a respiração. Cheguei na dona Maria, a tia, como a chamo. A churrasqueira aquecia o entorno. Pedi pra me fazer um mal passado, desejei tomar uma cerveja, mas reprimi o desejo, pensando que tenho bebido muito, que seria legal só beber agora na quinta-feira, dia de jogo...
Cheguei falando sobre o mole que o Fluminense deu contra o Figueirense e ela falou empolgada do Fred, que não jogou, o que ela desconhecia. Ela é tricolor como tantas mulheres são flamengo e não sabem quem é a bola. Mas ela falou do Fred de um jeito que revelava tesão: “ele não é bonito, mas tem um ‘tchan’... as pernas dele são lindas!”; Apontei uma dona bonitona que entrava na lavanderia em frente e comentei que ela era posuda, mas devia ser muito chato conviver com todo aquele monumento. Ela era fake, apesar de alta, se equilibrava em cima de mais uns dez centímetros de salto... Pra mim era demais. Mas a tia falou que ela era um tipão! Questão de gosto, falei...
Pensei em como estou ficando cada vez mais encantado por uma mulher que mal conheço...  nossas conversas de se conhecer às avessas... E afinal, o avesso, o que significa?
É tão somente o que está não revelado, ou o lado de dentro, ou o contrário?
Meu sono está quase me vencendo, vou ter que parar, vou sonhar com o avesso do avesso dela...