Confesso que me senti lisonjeado com o convite. Afinal, escrever num sítio de mulheres... Além do mais, “mulheres de opinião”... Sempre gostei de estar perto delas, me é estimulante! Então, escrever num espaço delas... Mas também me deu um certo medo, me senti meio esquisito: como escrever um texto “polêmico”, como me pediu a Eliane, numa página de mulheres? Já estou meio maduro pra cutucar onças com vara curta. Já me meti em encrencas fenomenais por causa disso e saí sempre arranhado. E pra arranhão dessas onças, não tem o equivalente masculino da lei Maria da Penha... E elas arranham mesmo!
Com relação à dita lei, mesmo tendo ajudado muitas mulheres a afastarem de perto de si uns otários violentos, a verdade é que ela discrimina e incrimina o homem (“Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher”, conforme sua introdução), colocando-o como potencial agressor, enquanto deveria coibir a violência em geral, seja ela de que ordem for e contra quem for. A verdade é que proteger o homem não dá ibope. Tenho certeza de que, se um deputado propusesse a criação de uma lei João da Silva, poderia até ser reeleito, mas ia apanhar muito! A mulherada ia fazer campanha pra derrubar o maldito. Por isso, vou escrever com todo o cuidado do mundo, com suavidade, calma, doçura e profundidade. Como as mulheres gostam. E com duplo sentido, mesmo.
Bem, de cara, vou logo dizendo que estou um pouco traumatizado porque tomei um “ou dá ou desce” de uma amiga, que quer que eu a chame namorada. Fiquei assustado e resolvi descer. Literalmente, desci do seu carro pensando: porque toda (não generaliza, Henrique), aliás, quase toda mulher quer a afirmação de um compromisso? Cheguei em casa pensativo, chateado por causa da real possibilidade de não mais voltar a vê-la, já que ela estava zangada mesmo! Meu caçula de apenas 14 anos, me vendo sorumbático, perguntou: “Que houve, pai?” Respondi-lhe, contando o que havia acontecido há minutos. Ele, gozador, deu uma risadinha safada e me saiu com essa: “Rárrárrá, o velho tomou um ‘DR’, rárrárrá”. Não entendi o gracejo, nem a sigla que para mim sempre significou doutor, e perguntei: “Que que é ‘DR’”? Ele sacou imediatamente o verbo e mandou: “Discutir a relação, pô! Tem que fugir dessas, quando elas vêm com esse papo, desconversa, faz um elogio, um convite, só não pode falar em sexo e tesão, senão ela vai dizer que você só pensa nisso”.
Fiquei estupefato! Não tem palavra melhor pra expressar o que senti/pensei naquele momento. Perguntei: “como você aprendeu isso?”, e ele, “porra, pai, em que planeta você vive? Todo mundo sabe disso!” Parecia que ele estava me dizendo que a gente já nasce sabendo essas coisas... Ou deveria nascer! Como que um moleque de 14 anos sabe essas coisas? Afinal, é verdade ou será um mito essa coisa de “DR”, discutir a relação? Será que somos assim mesmo tão diferentes: nós homens, só querendo saber de sexo, futebol e sexo, e elas, preocupadas com as questões mais viscerais e existenciais?
Voltando ao papo sobre a lei João da Silva, sei que posso me machucar - acho até que não vou dar meu nome completo e nem deixar o email porque periga eu tomar um processo ou ser acusado de machista - mas acho que qualquer agressão deve ser punida, indiferente do sexo a que pertença o(a) agressor(a). Afinal, tem mulher que agride o seu homem... E, apesar de que algumas argumentem que a agressão feminina é menos violenta, menos danosa, é agressão. Mesmo um arranhão, à luz da lei deveria ser condenável. Isso, sem contar na agressão auditiva, que são os gritos, os faniquitos, coisas desse tipo que os homens sofrem, mas que são inimputáveis.
E só pra ilustrar e provocar alguma reflexão – afinal, elas gostam disso...- faço aqui um relato interessante: hoje, fazendo umas comprinhas no supermercado (é, tem homem que é dono de casa, vai ao mercado, lava louças e até cozinha...), ouvi duas mulheres conversando sobre os filhos: “Quero ver alguém se meter na educação de filho meu! Com um menino daqueles atentando dentro de casa, não dá pra conversar! Ele só obedece quando apanha, se você vai na conversa, ele tripudia de você. É turrão, encrenqueiro, só o chinelo é que ele ouve. Palmada, parece que ele nem sente, parece que criou uma casca! Tem que pegar o chinelo. Aí, ele arregala aquele olho e para pra pensar. É o único jeito. Lei da palmada lá em casa não vai valer, não! ” A amiga ouvia atentamente aquela mãe que, nervosa, exagerava no sotaque nordestino, e então, soltou a isca, provocativa: “Dizem que eles vão poder até entrar na casa da gente! É só alguém denunciar!” A outra, já prevendo a dificuldade em segurar o moleque sem usar os chinelos, disse, voz nervosa, esganiçada: “eu boto ele no colo do juiz e digo pra ele cuidar. Quero ver!” O fato é que a lei Maria da Penha já pegou. Mas agora, temos que ver se a Lei Juquinha, a da palmada, também pega! Afinal, ela é bissexual...
Para quem não sabe - segundo dados do PNAD, Programa Nacional por Amostra de Domicílios de 2009 - uma criança ao nascer no Brasil hoje tem uma expectativa de vida sete anos menor se for do sexo masculino! É isso mesmo, sete anos! As mulheres hoje vivem mais sete anos que os homens em nosso país! Espantoso, não? E como a expectativa de vida é um dos dados mais importantes na avaliação de uma população, fica aqui a pergunta: qual será, na verdade, o sexo frágil? Não deveria o homem ser mais protegido?
Uma queixa muito frequente que ouvimos por parte das mulheres é sobre o pouco envolvimento dos homens com a casa e com os filhos... Pode ser verdade, apesar de depender muito da classe social. Eu me lembro que, no ano passado, me solicitaram que desse uma palestra para os responsáveis por algumas crianças que haviam tido aula comigo sobre sexualidade, lá na Rocinha. Os pais tinham dúvidas sobre algumas perguntas feitas pelos filhos após as aulas. Quando cheguei, nenhuma novidade: 11 mães e 2 pais. Lá pelas tantas, homens calados, meio envergonhados, não se sentindo à vontade naquele espaço predominantemente feminino, as mulheres começam as queixas: “os homens não ligam pra educar os filhos, só querem saber da rua, do futebol, não estão nem aí... Aí, o filho dá problema, estoura no colo da mãe...” Enquanto os dois pais ali presentes quase se afundavam nas cadeiras, elas reclamavam e acusavam os homens, generalizando. Até que eu, meio que aborrecido com aquela chatice das queixas repetitivas, perguntei: “mas afinal, quem criou esses homens desse jeito? Se os pais são tão ausentes, quem os criou assim foram suas mães, não é?” O silêncio que caiu no ambiente foi ensurdecedor! Os homens suspiraram, as mulheres afundaram suas reclamações em seus pensamentos... Então falei: “a gente só vai resolver essas dificuldades quando assumir que estamos no mesmo barco!” E terminei a palestra, aliviado.
Li recentemente que o Kissinger, ex-todo-poderoso do governo Nixon nos Estados Unidos da década de 60/70, disse algo que talvez tenha sido sua frase mais brilhante: “a guerra entre os sexos não vai nunca ter um vencedor. É que há muita confraternização entre os adversários”.
Fica, então, um convite a estes maravilhosos e misteriosos seres criados pela natureza: “vamos levantar a bandeira branca e confraternizar!”.