quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pandemia, pandemômio, tragédia.

Anunciada ou não, foi e está sendo uma tragédia. Muita gente morta, maior ainda o número de desabrigados e a sensação desalentadora de que as coisas estão fora do controle. Tirando a orientação do prefeito, “fiquem em casa” (pois o espaço público não é seguro, faltou dizer a novidade), o que se viu foi uma amostra do caos. Aliás, com perdão dos trocadilhos numa hora dessas, quem tinha uma casa segura, tinha um cais. E o mesmo prefeito (que deu a orientação perfeita) criticou - mas renovou - o contrato com a fundação Cacique Cobra Coral, que teria o poder de controlar as chuvas na cidade. Só que não acolheu as recomendações da instituição e demorou a pedir ajuda: “não adianta sermos convocados com o caos já instalado”, explica Osmar Santos, relações públicas da fundação. Resultado? Não deu pra fundação ajudar e tivemos essa calamidade cheia de dores e dramas e mortes. Mas me pergunto, porque uma instituição espírita precisaria do chamado do prefeito para ajudar? Será que não bastam as preces de milhares de cidadãos crentes que diariamente fazem suas orações pedindo aos céus que tragam paz e proteção para o mundo? Tem que ter o pedido de um alcaide? O cacique só atende autoridade? Será uma síndrome de chefe até nas esferas espirituais?
O governador, que na tragédia do início do ano só apareceu doze horas depois - e, mesmo assim, com a cara bem inchada – dessa vez não demorou a se pronunciar. E, pra variar um pouco a melodia, culpou os pobres, que moram em área de risco. E disse que o Estado tem que ser duro e tirar toda a população que mora nessas áreas. E eu me pergunto, o vizinho do Eike Batista, no Humaitá, que construiu sua mansão na beira do morro e foi responsável por um rio de lama que inundou o bairro no dia da chuva? Vai ser removido? Ou ele financiou a campanha de algum político e vão descobrir que sua casa fica abaixo da cota não sei qual e, então, construir ali, “pode”, como diria a cínica personagem do programa humorístico... O mesmo governador só faltou esfregar as mãos ao falar da ajuda que o governo federal dará ao Estado para ajudar na reconstrução. E autoridades municipais da área de obras e infra-estrutura, afinadas, referem já terem acordadas diversas ações de limpeza de bueiros, contenção de encostas e reconstrução de vias urbanas, inclusive com empreiteiras acertadas, sem licitação, pois o regime de urgência assim o permite.
O mesmo regime de urgência permitiu ao governo federal comprar milhões de doses de Tamiflu, o antiviral com ação contra o vírus H1N1, da gripe suína, e de doses da controversa vacina que agora está sendo oferecida à população. E então, recebo todo dia uma série de mensagens me perguntando: “devo tomar a vacina ou não?” Porque será que as pessoas ainda não se decidiram? A resposta é uma só: falta credibilidade às autoridades. Ninguém acredita na maior parte dos políticos e, mesmo os técnicos do governo, como deveria ser o caso do ministro da saúde, têm suas recomendações questionadas. É que os interesses subterrâneos são tantos, os caixas dois, três e outros são tão escancarados, que todo mundo desconfia. E isso acontece aqui e também na Europa. Afinal, porque os europeus, maciçamente, rejeitaram a vacina se ela foi disponibilizada para a população pelas autoridades sanitárias da União Européia? Serão eles desinformados? Será porque há muitos analfabetos por lá, ou terão eles “saúde de vaca premiada”, como diria o grande tricolor Nelson Rodrigues, e não precisam se vacinar? Se a Organização Mundial de Saúde recomendou, porque a população rejeita?
Vivemos uma crise moral, ética e as pessoas não são tolas: em termos de planeta, terremotos, tsunamis, secas e enchentes nos assolam e assustam cotidianamente. A tão antiga fome – não falo do sentir, que todos sentimos, falo do passar, que só quem viveu pode saber a sua dimensão de desumanidade – persevera, como se não fosse simples resolvê-la. O consumo crescente ameaça, mas os que têm demais, sequer cogitam abrir mão... E o que fazer? Não sei... Queria saber e poder dizer, mas, além de tudo, voltou a chover e isto me desanima tanto que não fico a fim de falar ou escrever mais nada...

Um comentário: