Tenho atendido ultimamente algumas mulheres com taxas de colesterol surpreendentes. Umas, têm colesterol baixinho, próximo ao colesterol de uma criança e ficam orgulhosas ao pegarem os resultados no laboratório ou baixarem da internet. Afinal, enormes sacrifícios na dieta e também nos exercícios físicos serviram para alguma coisa. Tudo em nome da saúde, apesar de que isto tenha representações muito diferentes para cada uma delas: para umas, significa se distanciar de uma morte angustiadamente temida, para outras tem o significado de estar em forma, mais bela internamente - até no sangue - que as amigas, para terceiras, valores tão baixos representam a afirmação do autocontrole que as faz mulheres tão poderosas. O que mais me surpreende é que algumas têm o HDL (que é o bom colesterol) maior do que o LDL (que seria o mau).
Os resultados entregues às pessoas trazem os valores de normalidade, e estes, no caso do colesterol, com muita freqüência, também surpreendem: , de tanto a tanto, alto, acima de tanto, mas não trazem o seu valor mínimo! E isto pode levar algumas pessoas a acharem que quanto mais baixo melhor e, então, colesterol zero seria o ideal a ser alcançado. Será isso verdade? Não, claro que não! O colesterol está presente nas membranas de todas as nossas células, participa da formação dos nossos ácidos biliares - portanto envolvido na digestão das gorduras -, da vitamina D (sem a qual o cálcio não se fixa nos ossos, gerando a osteoporose) e em diversos hormônios, especialmente os sexuais. Ou seja, precisamos MUITO dessa molécula de tanta importância para a nossa saúde. Mas então, porque esse olhar enviesado da nossa Ciência (perdoem a letra maiúscula, é hábito...)? A resposta é conhecido: o colesterol foi marginalizado desde que se descobriu sua participação nas doenças cardiovasculares, tão presentes no mundo desenvolvido e, inclusive, nos últimos anos, também no Brasil. Assim, desde a década de 60 do século passado que cientistas dos países do dito Primeiro Mundo nos ensinaram que o colesterol era ruim e deveria ser combatido. Indiscriminadamente. Passamos, consequentemente, décadas engolindo (argh) margarinas, enchendo os cofres de Anderson Clayton, Unilever e outras multinacionais, e deixamos de comprar aquele leite integral que, após fervido, nos dava generosa nata, com a qual em nossa própria casa, podíamos fazer a mais deliciosa das manteigas. Era só bater, bater, bater... E ainda tinha aquele barulhinho indicativo de que algo de saboroso estava sendo preparado! A marginalização das manteigas fez com que as vendas de margarina disparassem: no Brasil chegam a 500 mil toneladas anuais, enquanto as de manteiga empacaram a 1 mil! E nenhum cientista jamais investigou se comer um pão com aquela manteiguinha barata feita em casa pela vovó fazia nosso cérebro orgasticamente liberar algum neurotransmissor que nos fizesse bem... Pena! Ponto para as margarinas, apesar de que, posteriormente, foi descoberto que elas teriam gorduras trans, muito mais nocivas à saúde do que as gorduras saturadas, entre os quais se encontra o famigerado colesterol!
Mas em compensação, hoje compramos nas farmácias medicamentos que nos baixam o colesterol, incorporam o cálcio ao osso na marra, dão potência para os nossos pintos moles e ainda lubrificam a pele e as vaginas das nossas ressecadas e desmotivadas mulheres. Tudo vendido pelos mesmos conglomerados que fabricam margarinas e contratam as pesquisas que nos ensinam a como cuidar de nossos corpos. É que é difícil mudar hábitos e todos sonhamos com pílulas mágicas. Se estamos gordos, tomamos remédios para diminuir o apetite e aumentar o consumo calórico ou até mesmo cortamos um pedaço do estômago... Se não damos conta do trabalho, é muita coisa!!!, tomamos um acelerador das sinapses nervosas pra turbinar nossos cérebros, se entristecemos com nossas impotências, nossas perdas, não choramos nosso luto, temos anti-depressivos para tomar... E seguimos atônitos nossa humana marcha, diante dos saberes absolutos dos cientistas, como diante da Vida e da morte.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
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