segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Segunda-feira, e estou de volta de Maracangalha... Foram alguns dias sem pensar em trabalho, contas, compromissos, só esperando a chuva passar pra poder ir até a praia e pescar. Demorou um pouco: a Zona de convergência do Atlântico, substituta das massas polares e das frentes frias, velhas conhecidas, é a mais nova estrela das previsões meteorológicas. E só deu ela nesse verão molhado e frio, meio com cara de agosto, mês das previsões sombrias...
Mas na sexta-feira de manhã, finalmente, o sol saiu tímido, trazendo esperança de praia e peixe. Lá fui eu e, aqui, vou relatar minhas façanhas de pescador - amador, claro, nem deveria me preocupar em esclarecer, mas é bom, em respeito àqueles que saem de madrugada diariamente pra essa lida tão árdua quanto romantizada. Antes de começar, quero alertar que estórias de pescador amador são mutantes, crescentes, amadurecem, florescem e frutificam com o tempo, e devem ser ouvidas com o coração aberto. É que pescar nos remete à nossa ancestralidade mais remota, quando caçávamos e pescávamos para comer. Mais do que comer, para matar a fome. Não tinha dispensa, armário na cozinha guardando alimentos pro dia seguinte... Era correr atrás da comida de daqui a pouco. Como nas casas das pessoas muito pobres: não tem comida guardada, não tem dinheiro no banco, poupança, nem cofrinho com moedinhas pra tirar do sufoco. O que se ganha, se consome no dia, na hora. Amanhã é outro dia, outra luta, outra caçada...
Enfim, creio que esse passado está impresso em nosso inconsciente e justifica esse fascinante percurso que as vivências dos pescadores percorrem desde o fato até a versão. E eu, na sexta-feira, após alguns camarões perdidos no mar agitado, resolvi tentar jogar os anzóis entre umas pedras, num lugar em que havia o risco de perder isca, anzol, chumbo, todo o material... Bem, no primeiro arremesso, logo de cara, consegui acertar bem no poço que mirara e, em instantes, dois marimbás bem crescidinhos aportavam na areia. Aqui cabe um parênteses: quem nunca trouxe um peixe pra areia, puxando a linha e sentindo sua resistência depois da mordida inicial, da beliscada que, dizem os mais experientes, varia de forma muito clara entre as diversas espécies, não sentiu uma emoção parente do grito primal. E o fato, inquestionável, mesmo que vocês pensem que se trata da minha versão, foi que veio um marimbá atrás do outro, o que me fez resistir bravamente à chuva que ia e vinha, disputando a praia com um sol tímido, que chegava com preguiça e não firmava. Depois de limpar os peixes, feliz e orgulhoso, voltei para a casa em que estávamos , com uma sensação maravilhosa de dever (bem) cumprido, mas também com as coxas todas queimadas por um mormaço invisível. A pele ficou grená, como a cor do Fluminense. Foi um tal de passar creme hidratante toda hora, já que ardia igual queimadura de fogo, que tive que ficar de pijama até domingo em casa, sem querer nem poder saber do sol que, então, saiu abusado da toca.
Bem, agora que voltei de Maracangalha, é encarar as contas, responsabilidades, cair de cara na realidade e sair contando, me perguntem ou não, que pesquei tantos marimbás que até perdi a conta... É verdade, já nem sei mais quantos foram. Isso sem falar no tamanho deles: tinha uns, que eu nunca tinha visto tão grandes! Verdade mesmo! Pena que não tinha máquina pra fotografar e meu celular é só telefone... Da próxima vez, não esqueço, tenho que levar uma máquina, se não as pessoas ficam achando que estou mentindo. E eles eram muitos! E muito grandes! Eu juro!

Um comentário:

  1. hehehehe imagina se alguém ainda tem coragem de duvidar das histórias de pescador!

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